terça-feira, 18 de outubro de 2011

Se gritar pega ladrão, não fica um mermão...

Tenho me dedicado com atenção as notícias sobre as fraudes no Programa Segundo Tempo do Governo Federal. O poder mexe com as pessoas. Chove escândalos em todas as esferas envolvendo os três poderes e empresários corruptores e corruptos. Agora, a bola da vez são as ONGs. A revista Veja, aliás, avacalhou com o terceiro setor nas reportagens dos esquemas do ministro Orlando Silva.

Eu trabalho no terceiro setor e tem muita picaretagem mesmo neste setor. Não é o caso de onde atuo. Meu chefe é um cara chato. Examina cada real gasto no projeto. Muito legal, prova a seriedade da nossa proposta. Embasada nos resultados. Começamos com atividades em sete escolas e hoje já são 19.

Mas voltando ao primeiro parágrafo. A população comum resta o sentimento de impotência a cada falcatruagem divulgada. E as cifras sempre são assombrosas. Neguinho nunca rouba milzinho, sé de milhão pra cima. A galerinha lá do Amapá meteu bilhãozinho no bolso. Todo mundo foi em cana em 2010. Todo mundo tá soltinho em 2011.

Eu sinceramente acho que ainda seria pior, bem pior, se a galera não tivesse medo de ter o nome divulgado na coluna policial dos jornais.

E quando tu vê os esquemas quase cai da cadeira. Uns são bem bolados, mas outros são tosco. Nego mete a mão na cara dura e lança endereço que não existe. Parece ser bem fácil “enganar” o Estado e meter a mão no dinheiro público. Também quem tem o papel de fiscalizar tá sempre envolvido, vide a galera do Tribunal de Contas do RS.

A vida é foda pra nós, veio. Pra essa galera é uma barbada.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bandeira Branca Amor



Essa história aconteceu com três amigos meus. Eu não estava presente ao encontro, mas segundos testemunhas o trago foi forte na casa da Kully em Tramandaí. Entrou noite adentro. O sol saindo e a cerveja entrando. Ninguém mais conseguia falar, mas ainda havia sede a ser saciada e o Niti, o Diego e o Dani resolveram continuar bebendo enquanto os outros iam dormir.

Para não incomodar a galera, saíram em peregrinação pelos bares da cidade. Por volta das 11h30min chegaram a um restaurante e pediram cerveja. O estado dos três era lamentável e o dono se negou a servi-los. Ok. Ok, nada. Levantaram calmamente, caminha até a janela do restaurante e mostraram a bunda.

Feito o ato de rebeldia digno de uma criança de 10 anos, atravessaram a rua e sentaram no bar da frente. E continuaram a beber. Sei lá quanto tempo depois chegou a polícia e deu voz de prisão para os camaradas. Motivo: atentado ao pudor.

O resto foi o de sempre, muita explicação e explicação. Eles juram de pé junto que não passaram a tarde no xadrez. Porém, um traficante de Tramandaí do qual sou cliente fiel, me garantiu que dois homens dele curraram três playboys uma tarde inteirinha na cadeia da cidade ao som de Bandeira Branca Amor, no melhor estilo da peça Toda a Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A era da inocência

Morei seis anos em Rio Grande. Seis anos no Marcílio Dias, um conjunto de vinte blocos de dezesseis apartamentos cada em frente ao campo do São Paulo. Hoje o lugar mais parece um livro do Aluísio Azevedo, mas passei momentos felizes lá. Morava no bloco 3B. No 3A residia uma guria cujo o apelido era Birila. Ela é a personagem que abre as minhas três histórias de hoje.

Fiz a sétima e oitava no Juvenal Muller. Tinham dois caminhos para ir da escola até a minha casa. Ou pegava ônibus na praça ou na rua do Lemos Júnior (não lembro o nome). Na primeira opção, passavam mais ônibus, mas a chance de ir sentado era quase nula. Na segunda, pegava o FURG. O coletivo vinha do campus da cidade, onde havia menos cursos, então a opção garantia vários bancos sobrando pelo menos até passar no Centro.

A minha companheira de FURG era a Renata. Ela morava lá na casa do caralho e era obrigada a pegar esse ônibus que ia até o campus da univesidade que ficava uns dois quilômetros pra lá da casa do caralho. Às vezes pechava com a Birila no coletivo. Ela sempre estava em pé, mesmo com vários lugares vagos. Na inocência dos meus dozes anos, nem sonhava com o motivo.

Quem me explicou foi o Mauro, uns dois anos mais velhos que eu. Ele estudava no Bibiano de Freitas, e de vez em quando pechava com a Birila no ônibus também. Como a parada do Colégio dele era bem depois, o Mauro sempre ficava em pé e me revelou o seguinte: “cara a Birila gosta de ficar no corredor pros caras encoxarem ela. Eu mesmo já fui ali várias vezes.”

Putz a guria tinha uns quinze anos e já tinha toda essa maldade. Era profissional mesmo. Mas nada perto da personagem da minha segunda história: a prima do Ziquinho; Não teho a mínima idéia do nome do Ziquinho. Ele morava no 4A e tinha uma prima que não morava nos blocos (acho até que nem morava em Rio Grande), mas gozava de muito prestígio entre a gurizada.

Conforme a lenda local, todos os guris acima de 15 anos, e uns abaixo também, já tinham papado a prima do Ziquinho. O Alessandro, vulgo Negãozinho (o Alam da Franzem sabe de quem eu estou falando), contava uma história no mínimo escabrosa. Um dia a galera marcou de comer a prima do Ziquinho por volta das dez horas atrás do muro dos blocos, na “prainha da Lagoa”, na verdade um monte de areia suja coberta por uma vegetação digna de filme de terror. Árvores podres cheia de galhos retorcidos.

O Alessandro acordou uma dez e meia e já correu para o fundo do edifício. Lá, segundo ele, já havia um fila de meninos de várias idades “esperando a vez”. O negãozinho era um sujeito precoce. Apesar dos 11 anos, já tinha a malandragem digna de orgulhar o Bezerra da Silva.
Furou a fila, pulou o muro e esperou o Cabelo fazer o serviço, pra começar o dele. Sinceramente, não sei se o que eles faziam é o que eu chamo de transa, mas algo acontecia e eu não ficava nem um pouco triste por não saber. Nunca fui convocado para traçar a prima do Ziquinho. Pois sempre quando a moça aparecia para distribuir mimos para a gurizada eu não estava em Rio Grande.

Pura sorte, eu nem havia beijado na época, quanto mais transado. Acho que nenhum psicólogo teria indicado uma criança iniciar sua vida sexual com um gang bang.

A terceira personagem não tem nada a ver com as duas primeiras. O nome dela Karen. Eu devia ter uns onze anos e uma timidez estilo Luis Fernando Veríssimo. Um dia abri minha grande boca e comentei com os guris enquanto jogava uma partida de botão em um estrelão no andar onde morava o Alam: “a Karen é bonitinha.” Não lembro se alguém concordou. Só lembro de minutos depois, acontecer o maior desastre para um menino dessa idade. A Karen tava “a fim de mim”.

Fudeu. Até ali eu escapava do famigerado primeiro beijo com a frase acho a fulana ou a beltrana feia. Ninguém questionava, mas agora eu tinha elogiado a menina minutos antes. Rolou pressão, mas eu escapei sei lá como. Ela era da minha idade, mas se dava bem com a minha irmã e foi convidada para o aniversário da Flávia.

Eu dancei várias músicas com ela, já tinha uns doze ou treze, e fiquei morrendo de vontade de beijá-la, mas, como tudo na minha vida, pipoquei. Fui embora de Rio Grande nos meses seguintes e nunca mais tive notícias dela. Fui dar o meu primeiro beijo, com 14 anos, numa guria bonitinha e otária pra caralho (ela namorava um amigo meu, fui canalha desde cedo).

Resumundo, minha vida em Rio Grande foi um tédio absoluto. Não encoxei a Birila, não comi a prima do Ziquinho e não beijei a Karen...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Assistencialismo

Hoje a Ângela me acordou com uma mensagem falando sobre mais um tiroteio no bairro Bom Jesus. Não sei se entendi direito, mas um dos caras (eram dois sujeitos fugindo da polícia) se refugiou dentro ou nos arredores da escola Nossa Senhora de Fátima. Os estudantes foram obrigados a ficar dentro de sala de aula.

Isso já é quase rotina para essas crianças e adolescentes que nasceram e moram no bairro mais violento da capital. Nesses três anos de Cidade Escola, dá pra notar facinho, facinho, a diferença de público nas escolas municipais. A maioria delas fica localizada em bairros operários. Os estudantes almejam serem médicos, advogados, professores, mas em outras o bicho pega: o máximo dos máximos é ser cobrador de ônibus, porém é engraçado que muitos desejam ser policiais.

Já ouvi histórias do tipo: meu pai tá preso, meu pai tomou um tiro na cara quando eu tinha seis anos, moro com a minha avó por que meu pai abusava de mim, moro com mais dez irmãos e ajudo minha mãe a catar lixo.

Projetos de contra turno escolar talvez sejam o método mais eficientes de combate a violência e a exclusão social, mas eles são de longo prazo. Por este motivo sou a favor de intervenções pontuais dos governos como bolsas disto e daquilo. Inclusive a que garante renda para família de apenados. Já que o nosso sistema carcerário é uma merda, quem sabe essa ação não resultará em um modelo eficiente de reinserção social.

Governos são uma merda em geral, mas pressionados pela sociedade, eles até fazem alguma coisa tanto em nível municipal, estadual ou federal. Ao lado das bolsas, caminham projetos de responsabilidade social visando o primeiro emprego, exatamente para no futuro essas famílias não dependerem de projetos meramente assistencialistas.

O assistencialismo é uma merda, mas hoje ele é um mal necessário. Estamos pagando o preço por anos de desigualdade social estratosférica e o caralho a quatro. Não adianta o PT ou qualquer partido da base governista vir na TV e dizer que bolsa não é assistencialista. É sim. Tem que assumir, dizer o porque e pagar o preço político disso.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não esquece da minha caloi

Hoje passou por mim um cara num carrão (não entendo nada de carros, mas dava pra notar que era um “carrão”) e um cara de bicicleta. Lado a lado. Invejei o cara da bicicleta. Pensei: pessoas que andam de bicicleta são felizes e libertárias.
Estão acima do resto do mundo. Como diria o filósofo contemporâneo, cagam e andam para os outros. Ano que vem compro uma bicicleta e me torno uma pessoa feliz.

Mas eu gosto tanto de andar a pé. Principalmente quando a temperatura oscila entre 18e 22 graus e posso jogar a jaqueta levemente por cima do ombro e segurá-la com apenas uma das mãos. Ela não é de couro, mas por um instante me engano e penso que tenho o charme de um Steve McQueen.

Meu avô sempre dizia: o Steve McQueen é o homem mais bonito do cinema. Se é o mais bonito eu não sei, mas é o mais fodão com certeza. Pô, o cara e mais seis acabaram com o bando do Calvera no Sete Homens e um Destino. E olha que o Calvera era mauzão. Perto dele, o Fernandinho Beira-Mar era uma normalista de colégio de freira.

Fugi do assunto, como sempre. Foda-se aqui não tenho editor, nem critério, só vontade de escrever. Viva a liberdade. Vou comprar uma bicicleta e já volto.

Pensando no futuro

A Cidade Baixa ta cada dia mais parecida com Bombaim. Nada contra os indianos. Tudo contra milhões de pessoas se espremendo em pequenas quantidades de cimento. Quando cheguei aqui em 95, não tinha nenhuma boate. Hoje, são filas e mais filas nas danceterias.

Eu fujo da multidão. Me escondo. Me refugio em lugares como o Batmacumba e Mister Dam. Lá, os feios, como eu, ainda tem lugar e espaço. Ouço samba e rock na mesma noite. E bebo cerveja a um preço honesto com meus pequenos ganhos de jornalista fudido e mal pago.

Já tô pensando em largar a profissão e transar com homens de meia idade. Àqueles que fogem da cama de suas mulheres e pagam por rapazes na José Bonifácio ou arredores. Com a minha memória visual, monto um dôssie rapidinho desses caras e faturo só na chantagem da vida dupla dos que não se assumem e estão condenados a infelicidade.

Claro, vou ter que botar essa bundinha pra trabalhar, mas é um preço a pagar pela liberdade financeira. O problema é o seguinte: e se não rolar clientela? E se nem os homens de meia idade me quiserem? Aí fudeu, rapá. Haja terapia para entender tamanha rejeição.

É melhor eu seguir escrevendo mesmo. Ganho pouco, mas pelo menos passo intacto no teste da farinha!!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Síndrome de Peter Pan

Hoje eu vi um documentário sobre o John Hughes. O cara é uma lenda. Fez quase todos os filmes de adolescentes dos anos 80 como Curtindo a Vida Adoidado, Clube dos Cinco e A Garota de Rosa Shockin. Ou seja, ele poderia não ter feito porra nenhuma nessa vida, mas só o fato de nos ter dado Ferris Bueller já o colocaria no nível dos inquestionáveis.

O cara tinha trinta e poucos quando fez esses filmes. Criou uma legião de seguidores, tomou pau da crítica e sumiu a partie do início da década de 2000. Até morrer em 2009, aos 59 anos.

Se Steven Spielberg captou a alma aventuresca e imaginativa das crianças com Goonies, ET e Gremlin, Hugues mostrou o mundo cheio de sofrimento e castas dos adolescentes.

Revi depois de mais velho alguns filmes dele, não uso a palavra adulto, pois isso eu nunca serei. Curtindo a Vida Adoidado segue um clássico. Já decorei cada cena. Porém os outros são melodramáticos demais.

O nome do meu blog vem dessa época, mas é obra de outro diretor (Carl Reiner). Chainsaw é um dos personagens do emblemático Curso de Verão.

No colégio, a gente imitava tudo do filme. Na faculdade, a mesma coisa. E isso que a galera já tinha seus 18 anos em média.

Muitos professores da Famecos não acreditam quando a gente produzia, tipo no filme, o som com a boca estilo zumbido. Era bom demais. Só vi o massacre da Serra Elétrica em função de ser a película favorita da dupla Chainsaw e Dave.

Sou muito fã da sessão da tarde dos anos 80 e 90. Minha semana perfeita teria Curso de verão (meu favorito), Curtindo a Vida Adoidado, Conta Comigo (com o falecido River Phoenix), De Volta Para o Futuro e Garotos Perdidos (com o também já morto Corey Haim).

E deixei de fora muitos filmes que marcaram a minha infância como Goonies (protagonizado pelo Sam do Senhor dos Anéis) ou Gremlins com a (dona de minhas centenas de punhetas) gostosa da Phoebe Cates. Ela casou depois com o Kevin Kline. Apesar de ótimo ator, o cara é muito ciumento e proibiu ela de seguir fazendo filmes (caretão), pois a atriz já contava com algumas cenas de nudez e erotismo na carreira. Filho da puta esse Kevin Kline.

Vejam que em nenhum momento, eu falo algo sobre o roteiro dos filmes. Muito simples, porra. Se tu não viu algum desses filmes ou não tem ideia do que eu estou falando, tu não teve infância ou adolescência, mané.

Alguém, alguém, alguém... Ferris Bueller!!

Abaixo uma das dezenas de cenas clássicas do Curso de Verão

http://youtu.be/1ZY68_L1Yz8