segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A era da inocência

Morei seis anos em Rio Grande. Seis anos no Marcílio Dias, um conjunto de vinte blocos de dezesseis apartamentos cada em frente ao campo do São Paulo. Hoje o lugar mais parece um livro do Aluísio Azevedo, mas passei momentos felizes lá. Morava no bloco 3B. No 3A residia uma guria cujo o apelido era Birila. Ela é a personagem que abre as minhas três histórias de hoje.

Fiz a sétima e oitava no Juvenal Muller. Tinham dois caminhos para ir da escola até a minha casa. Ou pegava ônibus na praça ou na rua do Lemos Júnior (não lembro o nome). Na primeira opção, passavam mais ônibus, mas a chance de ir sentado era quase nula. Na segunda, pegava o FURG. O coletivo vinha do campus da cidade, onde havia menos cursos, então a opção garantia vários bancos sobrando pelo menos até passar no Centro.

A minha companheira de FURG era a Renata. Ela morava lá na casa do caralho e era obrigada a pegar esse ônibus que ia até o campus da univesidade que ficava uns dois quilômetros pra lá da casa do caralho. Às vezes pechava com a Birila no coletivo. Ela sempre estava em pé, mesmo com vários lugares vagos. Na inocência dos meus dozes anos, nem sonhava com o motivo.

Quem me explicou foi o Mauro, uns dois anos mais velhos que eu. Ele estudava no Bibiano de Freitas, e de vez em quando pechava com a Birila no ônibus também. Como a parada do Colégio dele era bem depois, o Mauro sempre ficava em pé e me revelou o seguinte: “cara a Birila gosta de ficar no corredor pros caras encoxarem ela. Eu mesmo já fui ali várias vezes.”

Putz a guria tinha uns quinze anos e já tinha toda essa maldade. Era profissional mesmo. Mas nada perto da personagem da minha segunda história: a prima do Ziquinho; Não teho a mínima idéia do nome do Ziquinho. Ele morava no 4A e tinha uma prima que não morava nos blocos (acho até que nem morava em Rio Grande), mas gozava de muito prestígio entre a gurizada.

Conforme a lenda local, todos os guris acima de 15 anos, e uns abaixo também, já tinham papado a prima do Ziquinho. O Alessandro, vulgo Negãozinho (o Alam da Franzem sabe de quem eu estou falando), contava uma história no mínimo escabrosa. Um dia a galera marcou de comer a prima do Ziquinho por volta das dez horas atrás do muro dos blocos, na “prainha da Lagoa”, na verdade um monte de areia suja coberta por uma vegetação digna de filme de terror. Árvores podres cheia de galhos retorcidos.

O Alessandro acordou uma dez e meia e já correu para o fundo do edifício. Lá, segundo ele, já havia um fila de meninos de várias idades “esperando a vez”. O negãozinho era um sujeito precoce. Apesar dos 11 anos, já tinha a malandragem digna de orgulhar o Bezerra da Silva.
Furou a fila, pulou o muro e esperou o Cabelo fazer o serviço, pra começar o dele. Sinceramente, não sei se o que eles faziam é o que eu chamo de transa, mas algo acontecia e eu não ficava nem um pouco triste por não saber. Nunca fui convocado para traçar a prima do Ziquinho. Pois sempre quando a moça aparecia para distribuir mimos para a gurizada eu não estava em Rio Grande.

Pura sorte, eu nem havia beijado na época, quanto mais transado. Acho que nenhum psicólogo teria indicado uma criança iniciar sua vida sexual com um gang bang.

A terceira personagem não tem nada a ver com as duas primeiras. O nome dela Karen. Eu devia ter uns onze anos e uma timidez estilo Luis Fernando Veríssimo. Um dia abri minha grande boca e comentei com os guris enquanto jogava uma partida de botão em um estrelão no andar onde morava o Alam: “a Karen é bonitinha.” Não lembro se alguém concordou. Só lembro de minutos depois, acontecer o maior desastre para um menino dessa idade. A Karen tava “a fim de mim”.

Fudeu. Até ali eu escapava do famigerado primeiro beijo com a frase acho a fulana ou a beltrana feia. Ninguém questionava, mas agora eu tinha elogiado a menina minutos antes. Rolou pressão, mas eu escapei sei lá como. Ela era da minha idade, mas se dava bem com a minha irmã e foi convidada para o aniversário da Flávia.

Eu dancei várias músicas com ela, já tinha uns doze ou treze, e fiquei morrendo de vontade de beijá-la, mas, como tudo na minha vida, pipoquei. Fui embora de Rio Grande nos meses seguintes e nunca mais tive notícias dela. Fui dar o meu primeiro beijo, com 14 anos, numa guria bonitinha e otária pra caralho (ela namorava um amigo meu, fui canalha desde cedo).

Resumundo, minha vida em Rio Grande foi um tédio absoluto. Não encoxei a Birila, não comi a prima do Ziquinho e não beijei a Karen...

5 comentários:

  1. Essa guria de 14 anos bonitinha e otária não era o Caju, era?

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  2. Só falta tu dizer que fez "meia" com a gurizada de Rio Grande, pra confirmar a tua viadagem... rsrsrs

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  3. A RUA QUE TU NÃO TE LEMBRA DO LEMOS JÚNIOR É A "DOUTOR NASCIMENTO".
    ABRAÇO!!

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  4. esse tal de mauro estudava no BIBIANO DE ALMEIDA e não no bibiano de freitas.
    e a rua que tu não te lembra do lemos junior é a DOUTOR NASCIMENTO.
    abração gremista!!!
    duda

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  5. Que merda hein... Além disso tudo relatado, ainda tomava surra de noite na ARFM... Hahahahaha!!!

    Abração meu querido!!!

    Maurício Ferreira (Chambinho).

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